Dividir para conquistar também na cozinha?
Confesso que não reparei quando aconteceu, mas de um tempo
prá cá, com pouca exceções, todos os programas culinários na TV viraram competições,
batalhas, guerras e disputas. Transformaram aquela receita alegre,
descompromissada, de fim de semana, em horas de lágrimas, sofrimento, decepção,
inveja, derrotas e vitórias. Botaram até crianças para competir na cozinha. Aquele
programa de sempre, onde a gente aprendia com os melhores a fazer um ou dois pratos
bacanas, hoje é apresentado por modelos, atrizes e pseudo-nutricionistas. Os
chefs fodões, com restaurantes estrelados, técnica impecável, criatividade e montagem
perfeita viraram juízes, apresentadores, celebridades ou mentores sempre com
cara de maus e longe das panelas.
Batalha dos Confeiteiros, Guerra de Cozinheiros, Food Truck –
A Batalha (esse é super trendy), Hell’s
Kitchen, Guerra dos Cupcakes e Nós Contra o Chef, são apenas alguns exemplos dos
tipos de programas que temos hoje liderados por grandes chefs ou cozinheiros.
Outros como Masterchef, Que Seja Doce ou Bake Off Brasil escondem o mesmo viés de
reality competitivo em nomes menos belicosos. Claro que a cerveja artesanal não
escapou e o Cervejantes faz uma disputa entre produtores caseiros que são
julgados por um mestre cervejeiro e por bebedores amadores.
Nada contra um chef ganhar dinheiro e exposição julgando
amadores num programa de TV, mas não parece um enorme desperdício? Você não
prefere assistir o craque jogando? Eu babo vendo a técnica do Gordon Ramsey preparando
um prato ou o quase descuido com que o Buddy Valastro cozinha em casa suas
receitas de família. Os caras sabem exatamente o que estão fazendo. Outro
desperdício, esse de tempo, é ver gente que não sabe segurar uma faca ou picar
uma cebola querendo nos ensinar a cozinhar. Eu gargalho de nervoso quando vejo a
Carolina Ferraz fazendo qualquer coisa no fogão.
Acho até bom ver gente como a gente cozinhando sob
supervisão profissional, me identifico. Mas porque transformar essa diversão em
competição, guerra, batalha? O Claude Troisgros conseguiu chegar num meio termo
naquele programa onde o amador tentava na segunda parte reproduzir o prato que
o Claude tinha ensinado na primeira parte do show. Era bacana, reproduzia o que
a gente faz quando lê ou vê uma receita na TV. Mas no final o amador ganhava
uma nota e todos os participantes de programas diferentes, preparando pratos
diferentes, competiam entre si. Pra quê? Por que não fazer no final da
temporada um grande almoço com cada participante levando seu prato?
Entendo que a TV esteja sempre em busca de novos modelos de
programas, e os de culinária são das mais antigas e tradicionais atrações da
telinha. Entendo também que reality shows têm um público e que juntar os dois
faz sentido.
O que não entendo é a necessidade da disputa, da batalha, do conflito ao lado da celebrização de excelentes profissionais da cozinha não pelos pratos que eles criam, mas por se transformarem em juízes e críticos de programas que colocam uns contra os outros numa atividade que historicamente sempre uniu as pessoas.
Talvez por isso as receitas em vídeos de um minuto sejam o
novo fenômeno da internet que está acontecendo longe dos chefs, produzidas por profissionais
ou amadores que preferem cozinhar por prazer, sem guerras. Mas esse é um
assunto que irei tratar em breve no meu site sobre as tendências que estão mudando nossa
sociedade, o www.panora.com.br.
3 Comments:
Comentário perfeito, programas sem graça! Batalha dos confeiteiros, por exemplo, é mais chato que Video Show. Um bom meio termo, como você falou, é o programa de Chefs Mirins do Troigrois.
Gosto muito doseu questionamento! E tb acho um desperdício essa coisa de competição... pra mim, é tudo fake! Ficam querendo contar estórias inventadas e acaba tudo num grande vazio sem sentido, pra mim.
Olá! Muito bom seu Artigo, obrigado por compartilhar essa informação conosco! Parabéns e Sucesso!
:)
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